Em meados deste mês uma ação promovida pelo Sebrae trouxe à tona reencontros entre o mundo empresarial e o universo político, estimulando reflexões sobre parcerias e interesses que se entrelaçam no Brasil contemporâneo. Ao mobilizar centenas de empresários para participarem de feira de negócios, a iniciativa não se limita a uma simples vitrine de produtos e serviços: torna-se palco de negociações, pleitos e articulações políticas não declaradas, mas certamente presentes. Essa movimentação revela que o protagonismo do setor privado está cada vez mais entrelaçado com decisões públicas, seja no nível municipal, estadual ou nacional.
Nas ruas, o cenário se revela palpável: prefeitos visivelmente engajados, secretários participando de painéis, lideranças locais alinhando agendas de apoio e incentivo. Empreendedores chegam carregando expectativas além do lucro imediato e buscam acesso a políticas públicas, facilitação regulatória e estímulos orçamentários. Há uma percepção clara de que, para um negócio prosperar, é preciso conectar-se ao poder que regula, financia e incentiva. A feira, nesse sentido, funciona como um ponto de contato essencial entre quem produz, quem consome e quem legisla.
Por outro lado, essa confluência tão próxima entre empresários e agentes públicos suscita críticas e cautelas. Há quem perceba risco de captura de políticas pelos interesses de grupos, pressões para favorecimento ou relações pouco transparentes. A linha que separa diálogo legítimo e influência indevida nem sempre é fácil de enxergar. Em eventos com esse perfil, é comum que projetos empresariais ganhem foro privilegiado junto à administração pública, enquanto propostas da sociedade civil menos estruturada fiquem em segundo plano.
Ainda assim, o balanço tende a evidenciar avanços potenciais. Quando políticas públicas de fomento são discutidas em meio ao ecossistema empreendedor, nascem oportunidades mais próximas da realidade local. Em vez de esperar programas feitos à distância, gestores podem incorporar demandas concretas de empreendedores regionais. O resultado pode ser uma agenda de incentivos mais calibrada para o território, com modulações para cada porte de empresa e realidade econômica.
As lideranças que participam desses encontros costumam enfatizar esse aspecto. Embora o discurso de fomento ao empreendedorismo já esteja consolidado, o desafio continua sendo transformar palavras em ações efetivas: crédito acessível, simplificação de tributos, capacitação relevante e suporte a inovação, por exemplo. Muito do êxito do evento vai depender da capacidade de conectar as intenções à execução, de fazer a ponte entre o que se promete e o que, de fato, chega.
No curto prazo, os impactos econômicos são palpáveis: hotéis, transporte, alimentação, comércio local ganham visibilidade e demanda extra. No médio prazo, surgem contratos, parcerias e expandidas redes de contato. Mas no longo prazo é onde reside o maior desafio: tornar o momento efêmero em mudança sustentada, modificando cultura institucional, estimulando governança aberta e legitimando a voz dos pequenos empreendedores como atores estratégicos na formulação de políticas.
É curioso observar como a mídia local repercute esses eventos: enquanto parte relata entusiasmo com ganhos regionais, outra parte questiona legitimidade e transparência. Esse duplo prisma reflete o caráter híbrido dessa relação: prática de mercado, arena política, palco de imagem pública. Os gestores públicos, por sua vez, se veem pressionados a demonstrar que não haveria favorecimento, que os critérios são gerais e abertos, e que as relações entre poder público e setor privado são regulares.
No fim, esse tipo de ação reacende debates mais amplos sobre o papel do Estado e do mercado no desenvolvimento local. Um evento empresarial promovido por agente de fomento é ao mesmo tempo uma vitrine e um campo de batalhas sutis por influência. A força dessas iniciativas está justamente em provocar diálogos, evidenciar gargalos reais e estimular pactos que superem posturas isoladas. Se feita com integridade e planejamento, pode fortalecer não apenas empresas e cidades, mas também a confiança coletiva na possibilidade de um desenvolvimento mais integrado e justo.
Autor: Medvedev Modrichi